O que é uma mentira que não consegue ser refutada?

Umberto Eco dedicou-se a reflectir e a fazer reflectir sobre isto no romance “O pêndulo de Foucault”

Será que uma mentira que não pode ser refutada é automaticamente uma verdade?

E será que uma mentira repetida muitas vezes, uma ideia falaciosa propagada até à exaustão, se transforma numa verdade?

Existe uma ideia de que são os empresários que criam emprego!
Sob esta assunção, muitas regalias são dadas a empresários e empresas, desde benefícios fiscais a perdões e isenções, mas será isto uma verdade?
A verdade é que os empresários não criam emprego. Pelo menos não voluntariamente. Os empresários têm de criar emprego se houver procura do produto que vendem. Quanto mais procura houver, mais capacidade tem de haver para se responder à procura, mais pessoas são necessárias para haver capacidade de resposta.
Por outro lado, se não houver procura, não há criação de emprego.

Uma empresa não é uma instituição de caridade. Um empresário não dá emprego a alguém que não necessite. Um empresário é avesso a ter de criar emprego a não ser que lucre e o lucro vem do consumo.

Se amanhã metade das pessoas deixassem de frequentar os Hipermercados daqui a uma semana haveria despedimentos em catadupa. A existência de um hipermercado não fomenta a criação de emprego, a procura dos produtos desse supermercado é que o faz. E só se implementa um Hipermercado num determinado local se houver consumidores suficientes para essa implantação, senão era um tiro no pé.

Da mesma maneira há benefícios dados aos grandes detentores de capital, uma vez que se afirma que eles estimulam o consumo.

É verdade que alguém com muito dinheiro pode gastar muito, mas, convenhamos, é uma única pessoa. Uma pessoa terá um número limitado de bens, portanto não será motor de uma economia, por mais extravagante que possa ser o seu estilo de vida.

Quem cria emprego são as pessoas comuns, quando consomem produtos e serviços, fazendo as firmas expandirem-se e precisarem de mais mão de obra para suprir a procura.

Um super-rico pode, por exemplo, comprar um Ferrari por ano. E basta olharmos para a Ferrari para perceber que não são vendidos em massa. Como não produz assim tanto, o número de trabalhadores da Ferrari não é assim tão elevado se compararmos com outras marcas de produção em massa. Quantos trabalhadores não têm a VW, a Renault, em fábricas espalhadas por todo o mundo? Quem é que gera mais emprego?

Isto, obviamente, faz com que os incentivos dados por todos em nome da criação de emprego sejam uma falácia. 

Empregos são criados por procura e não pela oferta.

Isto não invalida que não haja incentivos válidos, como no caso em que um determinado incentivo seja determinante para uma unidade fabril ser instalada num sítio em vez de outro, mas isto não se deve confundir com incentivos à criação de emprego.

Nenhum empresário no seu perfeito juízo empregará mais pessoas do que as que necessita

…a não ser que possa lucrar com isso!

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