Em 1992 uma banda de Boston chamada “Extreme”, na qual milita o Português Nuno Bettencourt, lançou um álbum chamado “III sides to every story”. O álbum, conceptual, está dividido em três partes distintas: “Mine”, “Yours” e “The truth”.

A verdade é factual. Não está aberta a interpretações. É, simplesmente.

No entanto, ninguém conhece a verdade. E ninguém a conhece porque depende sempre de pontos de vista pessoais.

Por exemplo, se tivermos um sujeito A que afirma que 1+1=2 e tivermos o sujeito B que diz que 1+1=10, há uma tendência imediata para afirmarmos que o sujeito A está certo e o B errado.
Da mesma maneira, se o sujeito A afirmar que 8+8=10 e o sujeito B afirmar que 8+8=16, daremos razão ao sujeito B.
Ao fazê-lo estamos a levar em conta as nossas referências. E quando o fazemos podemos estar a errar. Neste caso específico, por exemplo, ambos estão certos em ambas as proposições. Aquilo que muda é a referência.
Um mais um é igual a dois em qualquer sistema numérico com uma base superior ao ternário. Mas em binário, essa linguagem estranha dos computadores, apenas existem 0 e 1, pelo que o número a seguir ao 1 é forçosamente o 10, logo 1+1=10.
Da mesma maneira, numa base hexadecimal os números não acabam no 9. E como não havia mais números, convencionou-se usar letras, pelo que o numero 15=f. Chegados ao 15 começamos nova série do 0, pelo que 16 em base decimal é igual a 10 em base hexadecimal.

A verdade não mudou. Uma unidade mais uma unidade dará sempre duas unidades, independentemente da representação que usamos. Mas mudaram as referências e as convenções. Apesar de a verdade ser imutável, a interpretação da mesma muda com o ponto de vista como é encarada.

Se transpusermos isto do mundo da abstracção matemática para o mundo concreto (o que quer que isso seja), podemos olhar para tudo tentando perceber as perspectivas.

A ciência procura a verdade através dos factos. A ciência não detém a verdade, porque a ciência não sabe todos os factos. A ciência dá-nos a verdade possível com base nos factos conhecidos. A verdade da ciência não é (ou não deviria ser) imutável. Novos factos podem alterar parcialmente ou drasticamente a verdade.

Já a religião não procura a verdade. A religião tem a verdade. A religião é a verdade. Não há nenhuma religião que não afirme possuir a verdade. Mas como a verdade de cada religião aparenta contradizer a verdade de outra religião e só pode haver uma verdade, isto causa um problema, uma vez que não podem todas ser possuidoras da verdade!
Mas a verdade religiosa não é factual. A verdade religiosa baseia-se na fé. Baseia-se na crença de um grupo de que um conjunto de relatos é factual, embora poucos desses factos possam ser verificados.
São estas contradições que levam a choques civilizacionais, guerras, genocídios, limpezas étnicas. Deter a verdade e afirmá-la justifica tudo, mesmo o injustificável.
E no entanto quer a ciência, quer as religiões, têm de facto a verdade, ou pelo menos diferentes perspectivas da verdade. A lei de Deus não está escrita em pergaminhos velhos, papeis ou pedra, mas sim na consciência de cada um. Permitir que palavras escritas, por mais belas que sejam, se sobreponham à consciência, permitir que a fé deturpe factos poderá ser o mais grave pecado da humanidade!

Todas as religiões têm por base a mesma verdade, apresentada de formas diferentes. No fundo todas elas apenas dizem para agir perante os outros como queremos que os outros ajam perante nós. Se este preceito simples for cumprido todas as outras regras e leis se tornam absurdas e desnecessárias.

Porque a verdade é só uma e é imutável!

E a verdade não depende de pontos de vista científicos e religiosos para existir. Existe para além de todas as interpretações.

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