Tenho a perfeita noção que poderá parecer a quem leia estas linhas que se espalham aqui que terei algo contra algum povo ou etnia.

Nada poderia estar mais distante da verdade.

Vive-se hoje num mundo espartilhado pelo politicamente correcto. As pessoas são censuradas por dizerem o que pensam se aquilo que pensam não cair dentro da norma. 
Não é este o caminho, nem é esta a maneira de construir um mundo melhor. Espartilhar os pensamentos, silencia-los, engoli-los, apenas leva a que essa repressão um dia tenha de explodir. E quando isso acontece, há normalmente consequência quer para o individuo quer quem está à sua volta.

É perfeitamente normal e humano agrupar conjuntos. Tão humano que a maioria das pessoas prefere estar com alguém da sua etnia ou alguém com quem tenha afinidades, sejam estas emocionais ou intelectuais. Dito de outra maneira, é normal as pessoas tentarem integrar-se com outras pessoas parecidas consigo, seja uma questão de cor, intelectual, de ideologias, de afectos.
Da mesma maneira é perfeitamente natural falarmos de alguém proveniente de uma determinada nação pela sua proveniência, também o é pela sua etnia.
Se a maioria das pessoas de um determinado conjunto tem determinados comportamentos, é absolutamente natural associar esses comportamentos ao conjunto.

É um generalismo? É.
Poderá ser injusto para quem desse conjunto não se revê? Poderá.

No entanto há que não tomar o individuo pelo conjunto. O individuo está para além do conjunto. O individuo interessa mais que qualquer generalização, porque o individuo pode não se rever nos actos e atitudes do conjunto onde está inserido por força das circunstâncias.

É precisamente porque se toma o individuo pelo conjunto, porque se aplica, muitas vezes sem qualquer motivo, um conjunto de ideias pré-concebidas acerca de um conjunto a um individuo, pré-conceitos, preconceitos, que o politicamente correcto entra na linguagem, ao ponto de os professores primários não quererem que os alunos digam que um animal carnívoro come carne, mas sim que se alimenta de outros animais. Em algum passo mais à frente um carnívoro passará a ser um omnívoro que se abstém de se alimentar de algo que venha do reino vegetal.

O problema da História é que já passou. Mas o outro problema é que é sempre escrita pêlos vencedores. E muitas culturas deram-se a enormes trabalhos para apagar outras da história, com mais ou menos sucesso.

No entanto, a História, politicamente correcta ou não, é imutável. O que foi feito, foi feito, e nada o poderá desfazer. O que pode mudar com o conhecimento é a percepção dos factos. E uma percepção diferente pode ter um impacto no futuro. Uma percepção diferente pode fazer a Humanidade mudar de rumo. Uma percepção diferente, factual e despreconceituosa, pode, em última instância, levar a um ponto em que cada individuo esteja mais perto de atingir o seu pleno potencial, independentemente das suas origens, religiões ou ideologias.

O politicamente correcto apenas escamoteia as ideias, não as faz desaparecer. 

É mais útil tentar perceber porque é que alguém faz algumas afirmações e tentar levar a pessoa a perceber que pode estar errada do que viver num mundo onde o cinismo impera, em que ninguém diz o que pensa, mas apenas o que é aceitável

6 comentários:

  1. Não acho que quem o lê considere que tenha algo contra a algum povo ou etnia, muito antes pelo contrário, o que lemos por aqui é algo que vem de alguém com um grande conhecimento e ávido de muito mais. Só temos a agradecer por partilhá-lo connosco.

    Felizmente a tecnologia de hoje permite-nos soltar as “mordaças” que nos colocam à nascença com o politicamente correcto. Mas, mesmo assim, está a anos-luz de podermos libertarmo-nos delas porque, a falta de coragem e o politicamente correcto, caminham lado a lado e são ambos os grandes responsáveis pelo consumo excessivo das fluoxetinas e similares que assolam as sociedades consideradas livres de expressão! As outras, nem a esse luxo se podem dar!

    Esta é uma Terra estranha para alguns de nós que nela habitamos… ou então somos nós os estranhos para ela!

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    1. Agradeço que pense assim. No entanto, quando alguém lê alguma coisa trás consigo todas as suas ideias e a sua interpretação de palavras lineares pode não o ser (linear). Não tenho maneira de quantificar o meu conhecimento, pelo que não sei se será grande ou não, até porque grande e pequeno são graus comparativos com alguma coisa e levando em conta aquilo que não sei (se soubesse não haveria tantas perguntas) desconfio bastante da extensão do meu.
      A tecnologia tem servido de escape à tal mordaça, sem dúvida, mas há as tais consequências. A encoberto de um suposto anonimato (coisa que não existe na internet, na realidade, a não ser que se entre através de proxies obscuros localizados em auto-proclamados países algures no canal da mancha e mesmo assim...) as pessoas dizem nas redes sociais o que jamais teriam coragem de dizer confrontadas com os outros.
      Mas também não é claramente uma solução. É apenas estupidez.
      Quanto ao uso excessivo destas drogas legais, não me referindo apenas aos anti-depressivos mas, mais preocupante ainda, a coisas como a Ritalina, que criam uma geração de mentes dependentes, atrofiadas e enclausuradas num sistema de pensamento dominante e num sistema de ensino caduco e desajustado onde as crianças têm de ser endoutrinadas, muito mais haveria para dizer. Levando em conta os malefícios destes compostos químicos, mais valeria legalizar a canabis. Sempre tem menos efeitos secundários e psicológicos, sendo, ainda por cima, natural ao invés de um composto criado em laboratório.
      As sociedades consideradas livres de expressão não o são de facto. Fala-se, mas ninguém ouve. Já as que não são consideradas livres de expressão tem a vantagem de que quando se fala alguém ouve. Não sei qual das duas opções será pior, na realidade. No fundo, e se virmos bem a realidade mundial, os governos de ambas fazem o que entendem, à revelia dos seus cidadãos. As primeiras apenas legitimam essa maneira de agir com votações periódicas que apenas fazem suceder-se os mesmos actores. E mesmo quando as pessoas aspiram à mudança, esta não se realiza. Veja-se o caso do Presidente Obama.

      Não é uma terra estranha. É, simplesmente, uma terra animal. O que quer dizer que haverá alguns estranhos a ela, sim.

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  2. Parabéns pelo espaço, e pela sinceridade que por aqui impera... não muito habitual de se encontrar... infelizmente!
    Cheguei aqui através do blog Beijo Molhado.
    Abraço
    Ana

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  3. Agradeço.
    Pois... Mas se não houver sinceridade, sobretudo para com nós próprios e por extensão com os outros, o que é que sobra?

    Chegou por bom caminho.

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  4. Quanta verdade dita, da mentira em que vivemos e, o pior, é que mesmo que se queira fugir, não deixam.

    Costumo brincar (seriamente) com a liberdade de expressão das "democracias" - e a castração da palavra das ditaduras.
    - Na segunda, somos mais importantes, e até o silêncio é ouvido
    - Já na primeira, deixam que falemos mas, quem nos ouve? ninguém. Enganosamente dizem-nos livres

    Que belo texto o seu
    Boa noite

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    1. Agradeço.

      A ilusão da liberdade é a maior mentira que os governos ditos democráticos conseguiram impôr.
      Não somos livres quando as nossas escolhas são limitadas.
      Não somos livres quando escolhemos quem governa com base em premissas que nunca se realizam. Promessas feitas para captar votos que não valem o papel onde são escritas. Sobretudo quando ninguém é responsabilizado pelo que disse e fez.

      No fundo, todos nascemos escravos de um sistema criado para que as três pessoas mais ricas do planeta tenham tanta riquesa como os 50% mais pobres.
      Liberdade seria romper com o sistema, mas para isso seria precisa uma revolução mais de forma de pensar do que de actos.
      Mas será dificil quando as pessoas são endoutrinadas em sistemas escolares que não promovem o pensamento critico, antes, reflectem o pensamento dominante.

      Talvez o Homem nunca venha a conhecer a liberdade...

      Houve alguem um dia que disse "Olhai os lirios do campo...", mas a mensagem perdeu-se e foi deturpada pela fachada que resta de um império caído.

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