As sociedades são compostas por pessoas.

Dentro das sociedades temos a politica, a arte e a religião. Qualquer uma destas três componentes influenciam a cultura da sociedade.

A política deveria servir para fazer a gestão mundana dos bens da sociedade e a redistribuição de recursos, bem como responder às aspirações futuras das pessoas que compõem a sociedade.
A arte é uma forma de expressão, individual ou colectiva, que se alimenta da cultura da sociedade e a influência num circuito de retro-alimentação. Uma obra de arte tem o poder de mudar um paradigma da sociedade, mas nunca o poderia fazer se o paradigma não existisse anteriormente, da mesma maneira que a política o faz com as leis. As leis alteram-se e a arte muda porque a sociedade é dinâmica e muda também com o tempo. Arte e política são tanto causa como consequência.

Mas o problema é que as pessoas que compõem a sociedade estão, na maior parte do seu tempo disponível, ocupadas a sobreviver. No tempo que sobra ocupam-se a fazer algo que lhes dê algum prazer, seja ler um livro, ver um filme, ver programas esdrúxulos em canais televisivos generalistas, passear, organizar refeições com amigos, ou que quer que seja que lhes preenche o tempo.

Como tal, existem políticos que são pagos pela sociedade para fazer politica e agir em nome de um conjunto de cidadãos dessa sociedade. Não passa pela cabeça de ninguém fazer do Diário da Republica leitura obrigatória para saber de todas as leis que são publicadas. Por norma as leis deveriam ter por base o bom senso na regulação das relações pessoais e empresariais e, desde que alguém haja dentro do bom senso, não deveria estar a fazer nada ilegal. Quanto muito, alguns cidadãos mais interessados lêem jornais ou vêem debates ao vivo ou na televisão e formam uma opinião com base na opinião de outros que são pagos para emitir essa opinião. O que quer dizer que a maioria da população tem uma visão da politica em segunda, terceira ou quarta mão, com opiniões que divergem por vezes tanto dos factos que a sociedade acaba por ganhar uma visão obliqua da politica.

Com a religião passa-se a mesma coisa.
As pessoas têm uma vida prática com tempos limitados. Por outro lado existem os religiosos, que vivem para estudar os textos religiosos e transmitir a pratica dos mesmos à sociedade.

Quantos cristãos, no mundo inteiro, leram alguma vez uma versão não adulterada da Bíblia?
Nenhum!
Quantos cristãos leram a Bíblia, seja em que versão for?
Muito poucos.
Quantos Islâmicos leram o Corão, na sua versão original, sem anotações?

E o problema reside aqui, sobretudo quando falamos de costumes morais. Se é relativamente fácil olhar para uma frase como “Não matarás” e perceber que não há qualquer conflito aqui, para a maior parte do que é dito nas igrejas, mesquitas, templos ou seja o que for, as interpretações são variadas, sobretudo quando se pode pegar numa frase de um livro imenso e descontextualizá-la.

Talvez por isso o Corão diz que apenas o que está escrito é a lei. Seguir a lei de sábios que se pronunciam acerca das escrituras e não a lei que está nas escrituras é, ou deveria ser, para um crente, idolatria.

Ou seja, para um crente, o Corão é a única lei. Mas se aquilo que lá está escrito não é aquilo que é interpretado – o que não é difícil perceber quando há um Imã que diz aos seus fieis que devem deixar de comer tomate, uma vez que, quando cortado, o tomate apresenta um cruz no interior e nunca vi nada no Corão que se referisse à profanidade do tomate – então não estará a religião em confronto directo com a revelação que lhe serviu de base?

10 comentários:

  1. Resumindo: O mal do mundo é, e sempre foi, O HOMEM, ora por soberba, ora por desleixo.

    Continuação de uma boa tarde

    ResponderEliminar
  2. Atrever-me-ia a afirmar que também é a MULHER, pelos mesmos motivos :)

    Uma excelente tarde para si também e que este magnífico sol encha de luz não só o seu mundo e mas também o seu espírito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, mas quando disse homem, era mesmo no sentido de humanidade, englobando ambos os géneros - nestas coisas não há que tirar de uns para pôr noutros. :-)

      Eliminar
    2. Eu sei. Estava só a fazer uma tentativa (frustrada) de humor! Perdoe a falta de jeito...

      Eliminar
    3. Desculpe-me antes a mim, por não ter tido a sensibilidade de perceber o cariz humorístico :-))

      Eliminar
    4. Nada a desculpar.
      Mas fica desde já a saber que às vezes também tenho algumas tentativas, frustradas, de humor, algum até com ironia. Mas nem sempre me dou bem, como pôde constatar.

      Eliminar
  3. Na verdade só existem duas sociedades, a do poder e a que lhe presta vassalagem!
    A religião só veio dar ao poder, mais poder sobre os seus vassalos e cada vez mais acredito que foram criadas com esse intuito!
    Aliás, não conheço nenhuma religião que não “proíba” alguma coisa, por isso qualquer delas estão em confronto directo com o que lhes serve de base!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É interessante...

      Não creio que qualquer uma das religiões tenha sido criada ou tenha aparecido com esse intuito. Aliás, qualquer uma delas, historicamente, foi anti-poder quando criadas.
      Mas quem detém o poder é pragmático o suficiente para perceber a velha máxima "se não os podes vencer, junta-te a eles".
      O caso da Igreja católica é um desses. Afinal, o imperador constantino, que nem batizado era, convoca um concilio à revelia do papa, que nem sequer esteve presente, onde se definem as bases da actual igreja. Onde se escolhe os textos que farão parte do novo testamente, onde se decide se Jesus foi um profeta ou o messias.
      Basicamente, institucionalizou-se aquilo que era contra-corrente.

      E é fácil perceber o porquê. Seria dificil continuar a matar cristãos nas arenas quando metade das legiões se tinham convertido. Mais tarde ou mais cedo haveria uma situação de guerra cívil.

      Mais recentemente temos grandes exemplos disso.
      Por exemplo, o rock sempre foi um estilo de música marginal. O heavy-metal era o parente pobre do rock. No entanto, era um estilo extremamente interventivo. De repente, contra todas as expectativas, o heavy metal, numa das suas vertentes mais extremas, invade o "mainstream" e institucionaliza-se, começando a ficar domesticado.
      Depois vês as bandas domesticadas a atingir um estrelato de proporções ineditas e as que persistiam na sua visão artistica a ficar para trás...

      Tudo o que pode trazer alguma vantagem acaba por ser institucionalizado e absorvido e usado de forma contrária aos propósitos originais.

      E se é verdade que as igrejas do mundo ocidental perderam grande força com a laicização dos estados, o Islão continua a ser instrumentalizado para fins políticos, uma vez que politica e religião se misturam.

      A religião deve dar linhas de orientação de conduta, segundo a consciência individual, e ser libertadora. Quando não o é, não é uma religião, é só mais uma organização.

      Eliminar
  4. O que eu sei... é que a arte explica o mundo... através das obras e visão dos seus criadores...
    Enquanto a política e a religião... deturpam o mundo... consoante o interesse, das mais altas instâncias de ambas, em cada época da história dos homens!...
    Alguém conhece os Evangelhos de Judas, e Maria Madalena?... Eles existem... mas não estão divulgados...
    Judas não seria o mau da fita como o pintaram... e a Maria... não seria uma figura assim tão apagada na história da Bíblia... mas reescreveram a Bíblia... e afastaram as mulheres da religião... quando elas antes da Bíblia, até teriam um papel bem mais activo na história das religiões... e da política... como no Egipto por exemplo...
    E hoje em dia... declara-se guerra, por conta de uma qualquer interpretação do Corão... quando nenhuma religião defende a morte... mas antes o entendimento da vida...
    Bjs
    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muita coisa há ainda a descobrir nos textos apócrifos... Não sei é até que ponto se quer que os textos sejam assim tão bem analisados...

      Eliminar