Mas quererá isto dizer que Jesus, O Cristo, não será mais do que uma personagem de ficção?
 
A resposta a esta pergunta dependerá do entendimento de cada um. De uma perspectiva pessoal não me custa a acreditar que sim, que existiu, à semelhança de tantos outros personagens messiânicos e proféticos que existiam por lá, e que tanto esperavam o Messias que os viria libertar do julgo Romano.
Se pensarmos bem, o facto de não ser referido dever-se-á a que o impacto original de Cristo não terá sido assim tão grande. Ainda que multidões o seguissem em alguns lugares, ainda que a sua fama se possa ter espalhado localmente por ter feito curas prodigiosas e milagres, o mais provável é que a maioria desconsiderasse tal como exageros e boatos.
A imagem de cristo torna-se central apenas depois da sua ressureição. Algo teve um impacto tão brutal naqueles homens simples e iliterados, como Simão, o Pedro, que os levou a renegarem a importância da sua própria vida em relação ao testemunho que davam.
Mesmo Saulo de Tarso, que mudou radicalmente de perseguidor a perseguido, embora nunca o tenha conhecido (não é absolutamente claro se alguma vez o terá visto antes de lhe ter aparecido).
Não é portanto estranho que à data das ocorrências estas fossem apenas coisas menores, no meio de tanta coisa estranha que se passaria nas regiões mais longínquas do Império.
 
Olhando então para os testemunhos e vidas daqueles que eram os seus apóstolos é seguro dizer que algo teve uma influência brutal nas vidas daquelas pessoas.
 
Então porque todas aquelas semelhanças com outras divindades solares?
 
Ao fazermos esta pergunta devemos pensar em duas coisas distintas: Cristianismo e catolicismo!
 
A história da fundação da igreja católica apostólica romana está cheia de coisas estranhas. Basicamente, antes de existir a instituição, ninguém ia à missa. O importante não era cumprir ritos religiosos mas sim ser cristão. Foi um imperador romano que determinou a doutrina, à revelia do Papa da altura. Tê-lo-á feito de forma desinteressada?
 
Depois temos uma instituição que não cumpre os ensinamentos da figura que é central nessa instituição. Ou seja, fosse quem fosse Yéshua, não era certamente a figura que é Jesus.
Sabemos hoje em dia de uma enorme quantidade de evangelhos, os apócrifos, que não só não foram considerados para a bíblia, como foram destruídos, alguns perdidos para sempre.
Mas, os textos do mar morto vieram mudar as perspectivas e alguns deles fizeram perceber o porquê de terem sido proscritos pela Igreja. A Igreja escolheu os quatro evangelhos que se adequavam a uma determinada finalidade, deixando outros de lado. Mesmo assim, a adequação não é perfeita.
 
Basta pensarmos que Cristo não terá ressuscitado ao fim de três dias. Se morreu numa sexta-feira à tarde e ressuscitou no domingo de Páscoa, quanto muito terá ressuscitado ao terceiro dia, contando com o próprio dia da morte. De sexta à tarde para domingo de manhã é um pouco menos que dois dias. Então porquê a insistência no “terceiro dia”?
 
E falando da própria doutrina, basta pegarmos num trecho simples, como por exemplo, evangelho de S. Mateus, capítulo 23, de que transcrevo parte abaixo:
 
“Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos,
Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus.
Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;
Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los;
E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes,
E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas,
E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi.
Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.
E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.
O maior dentre vós será vosso servo.
E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado.”
 
Se olharmos para este texto, creio que a maioria reconhecerá as ultimas frases. Este texto fala da hipocrisia dos escribas e dos fariseus. Mas há algo de importantíssimo e com consequências que vão além do óbvio se fosse aplicado como está dito.
 
“Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos.
E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.
Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo.”
 
Este trecho diz-nos, simplesmente, que se todos somos irmãos, nenhum de nós é mais ou menos que outro.
A levar este trecho à letra, alguém que se apresenta com um título está a tentar elevar-se em relação ao outro. Da mesma forma, ao dirigirmo-nos a alguém por um título estamos automaticamente a pôr essa pessoa num patamar superior.
Uma pessoa não é aquilo que faz. É aquilo que é! Aquilo que faz é apenas uma parte daquilo que é.
 
Não é estranho, nesta sociedade, que as pessoas prefiram definir-se pelo que fazem em vez de pelo que são?
 
Ora, dentro da própria hierarquia da Igreja as coisas não funcionam assim. Uma coisa é dizer a alguém “vou falar com o padre” outra coisa é dirigirmo-nos a ele como “Sr. Padre”. O próprio padre deveria desencorajar este tratamento, uma vez que se está a colocar numa posição de superioridade. Além disso, apesar de ele ter uma função, padre, isso não quer dizer que seja muito “católico”!
 
Portanto, se até numa coisa aparentemente tão simples a Igreja se desvia dos seus fundamentos, o que não fará nos assuntos verdadeiramente complicados?

4 comentários:

  1. Ora aí está aquilo que penso - eles jogam no team do Frei Tomaz, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.
    Continuo a pensar que as religiões foram feitas por uns poucos, para acarneirar muitos. A interpretação do LIVRO, a ter existido, foi cortado e recortado, mexido e remexido, não se sabendo hoje o que existe dele em cada nova edição, feita à medida.

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    1. Há que não confundir "religião" com "instituição religiosa".

      Há que não confundir o que está escrito (de facto e sem tradução) daquilo que é a interpretação dos escritos (ou por vezes a interpretação de traduções nada exactas)

      Confundir ambas leva a coisas como a "santa" inquisição e o Daesh!

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  2. Como diz a noname com tantas mexidas e remexidas já pouco deve sobrar do que foi realmente escrito!
    E quem escreveu originalmente terá relatado mesmo os acontecimentos reais ou seriam apenas romances ficcionais?

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    1. Todos os evangelhos canónicos foram escritos originalmente em Grego!
      Nenhum deles sobreviveu até hoje. o único fragmento sobrevivente dos quatro originais tem o tamanho de um cartão de crédito.
      Entre as várias Bíblias da altura há discrepâncias gritantes, inseridas pelos copistas.

      Mas...

      Entre os apócrifos há pelo menos um escrito em Aramaico e que se acredita contemporâneo de Yéshua. O Evangelho de Tomé seria uma transcrição das palavras de cristo e dos seus ensinamentos durante a última ceia. É belíssimo, nada têm a ver com os restantes, e dá uma imagem bastante interessante daquilo que deveria ser o Cristianismo!

      Apesar de tudo isto e ainda assim, mesmo o que está escrito nos canónicos não é seguido pela doutrina, sobretudo em casos algo "espinhudos". Normalmente a desculpa é "Jesus disse isto na altura para nos fazer pensar, disse-o de forma figurada!" o que é estranho, sobretudo quando isto vem de alas que afirma que a bíblia é literal! Normalmente é aqui que pergunto:
      -Mas é literal ou figurado, afinal? É que se este livro é literal e histórico, todos são hereges! Se não é, então deixem-se de histórias de Adão e Eva e do mundo ter sido criado há 6000 anos do nada.

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